Coréia do Norte – Embaixador brasileiro não crê em guerra

Roberto Colin relata clima tranquilo nas ruas da capital da Coreia do Norte
 
Fonte:  O Globo  – Eliane oliveira
 
BRASÍLIA – O embaixador do Brasil em Pyongyang, Roberto Colin, tem até o próximo dia 10 para informar ao governo norte-coreano se vai sair do país, permanecer na capital, ou ir para o interior, dentro de um plano de evacuação que, ao que tudo indica, incluirá diplomatas estrangeiros. Há pouco mais de um ano no posto, Colin não acredita em uma guerra, embora admita que existe o risco.
– A Coreia do Norte não quer uma guerra pois todos sairiam perdendo. A grande preocupação é que um simples mal entendido, um erro de cálculo, escape do controle e cause efeitos desastrosos para a Humanidade – disse ele ontem ao GLOBO, por telefone.
O diplomata contou que as ruas de Pyongyang estão calmas: não há veículos militares e a vida segue com sua rotina local. Quinze de abril é o “dia do Sol”, aniversário do fundador do país, e estão previstos diversos eventos.
A possibilidade de guerra já não entra mais na primeira página no “Jornal dos Trabalhadores”, o principal do país, onde a imprensa é estatizada, como praticamente tudo na Coreia do Norte.
Ao mesmo tempo, é intensa a propaganda estatal na televisão contra americanos, sul-coreanos e japoneses, contendo imagens da guerra da Coreia, que dividiu o país em dois. A mensagem é que o país está pronto para lutar. No entanto, lembrou o embaixador, esse tipo de campanha midiática ocorre periodicamente, sempre que há treinamento de forças militares na fronteira.
– Há mais de uma semana, a imprensa continua falando do conflito, mas não na primeira página. Mudou o primeiro ministro e a parte econômica vem se destacando mais nos jornais – observou.
Colin ressaltou que os norte-coreanos sofrem duros embargos e gostariam, entre outras coisas, de forçar os americanos a retomarem as negociações, para que a Coreia do Norte possa se inserir na comunidade internacional. Ao mesmo tempo, podem estar testando a nova presidente da Coreia do Sul, a conservadora Park Geun-Hye. Ele aposta, contudo, que o que move hoje o país é a necessidade de um plano de medidas econômicas.
– Dificilmente o governo vai implementar mudanças num país isolado desta maneira – comentou Colin que, junto com sua família e dois funcionários da embaixada, são os únicos brasileiros na Coreia do Norte.
Com a experiência de viver em Pyongyang há um ano e um mês, Colin disse que não há uma certeza de que o país possui, de fato, a bomba atômica.
Para o professor de História Contemporânea da Universidade de Brasília, Estevão Martins, a impressão do embaixador brasileiro de que nada acontece nas ruas de Pyongyang é resultado da repressão.
– Nenhum regime comunista permite liberdade de comentário – disse.
Ele ainda fez uma observação sobre a posição da China de fazer a Coreia do Norte saber que não admitirá que um pequeno país perturbe o equilíbrio da Ásia. Para ele, foi fundamental para que o líder norte-coreano interrompa o que chamou de “jogo de blefe”.
– A China não vai dar o apoio que dava antes. O que o governo comunista norte-coreano quer é manter um poder que talvez esteja em crise nas instâncias militares e do partido – afirmou.
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